Pesquisa do SESI/SENAI com a população revela que apenas 38% dos que não estudam alcançaram a escolaridade que gostariam. Entre jovens de 16 a 24 anos, 18% abandonaram por gravidez/filho
A frase “Concluí os estudos” será cada vez mais rara de ouvir. As tecnologias têm provocado uma verdadeira revolução, com impactos diretos no mercado de trabalho. O mundo todo discute sobre aprendizado ao longo da vida, para requalificar e realocar os trabalhadores, mas o Brasil tem desafios precedentes: os altos índices de evasão e a baixa escolaridade da população.
Pesquisa de opinião do SESI e do SENAI mostra a dimensão do problema. Só 15% dos brasileiros com mais de 16 anos afirmam que estão matriculados em alguma instituição de ensino, com diferenças consideráveis por região, faixa etária e renda. A pesquisa ouviu 2 mil pessoas com mais de 16 anos nas 27 Unidades da Federação, tendo uma amostra representativa da população brasileira.
Pesquisa SESI SENAI Educação.pdf (5,7 MB)
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- 15% dos brasileiros com mais de 16 anos estão matriculados em alguma instituição de ensino (ensino fundamental, ensino médio, técnico, superior e pós-graduação) - 53% entre os jovens de 16 a 24 anos;
- Índice de quem está estudando é maior no Nordeste (18%) e menor no Sul (10%);
- Índice maior na capital (17%) e menor em região metropolitana (9%);
- Índice maior entre quem tem renda familiar acima de 5 SM (24%) e menor na de 1 até 2 SM (9%);
- Entre os que estudam, só 16% estão no Ensino a Distância (EaD), índice que chega a 35% entre 41 e 59 anos. O EaD também está mais presente no Sul (24%) que no Nordeste (13%).
Entre os que não estudam atualmente, apenas 38% alcançaram a escolaridade que desejavam e 57% não tiveram condições de continuar os estudos por diferentes motivos, sendo o principal deles precisar trabalhar para manter a família (47%).
Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixarem de estudar é a gravidez ou nascimento de uma criança. A evasão escolar por gravidez/filho é maior também entre mulheres (13%), moradores do Nordeste (14%) e das capitais (14%) – o dobro da média nacional, de 7%.
“Não podemos ter um projeto de país, para o desenvolvimento social e econômico, sem considerar a educação. Conhecer os motivos e o perfil dos jovens e adultos que interromperam os estudos, e consequentemente sua evolução profissional, é indispensável para criar oportunidades e reduzir desigualdades”, alerta o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi.
Ruptura na trajetória estudantil começa no ensino médio
O ensino médio, que deveria ser a ponte entre a educação básica e o início da trajetória profissional, é, provavelmente, a etapa mais emblemática. Cerca de 1 em cada 10 alunos reprova (4,7%) ou abandona (4,2%) a escola no 1º ano. O índice de reprovação cai para 3% no 3º ano, mas o de abandono sobe para 4,7%. Os dados são referentes ao Censo Escolar 2021.
Em um país com 66,4 milhões de brasileiros com mais de 18 anos que não têm o ensino médio completo e não frequentam a escola, é contraproducente fechar os olhos para essas taxas, afirma Lucchesi. Até porque não demora para aparecerem os reflexos da formação incompleta: 25,8% dos jovens de 18 a 24 anos nem estudam nem trabalham (PNAD Contínua do 4º trimestre de 2022).
É um problema crônico, que deixa o Brasil na lanterna, como aponta a última edição do Education at a Glance, da OCDE: os nem-nem eram 35,9% dessa parcela da população em 2020, o que colocava o país como 2º com a maior proporção de jovens fora da sala de aula e do mercado de trabalho. A média dos países da OCDE era de 16,6%.
Brasileiro lista prioridades para o governo
A população reconhece que há uma lacuna no início da escolarização. A alfabetização tem a pior avaliação de qualidade: 47% dos entrevistados a consideram boa ou ótima e 20% ruim ou péssima – enquanto o ensino técnico, etapa mais bem avaliada, tem 58% de bom ou ótimo e só 8% de ruim ou péssimo.
A etapa de desenvolvimento da competência da leitura e escrita deve ocorrer entre o 1ª e o 2º ano do Ensino Fundamental, por volta dos 6 anos de idade. As dificuldades enfrentadas pelas famílias e pelos docentes para garantir que as crianças fossem alfabetizadas durante a pandemia pode ter contribuído para a avaliação negativa.
Tanto que a alfabetização aparece em primeiro lugar na lista das etapas que devem ser prioridade para o governo, apontada por quase um quarto (23%) dos brasileiros. As creches aparecem em 2º lugar nas prioridades, com 16%; o ensino médio em 3º, com 15%; e o ensino superior somente em 6º, com 6%. As entrevistas, realizadas pelo Instituto FSB Pesquisa, ocorreram em dezembro.
Avaliação da qualidade e prioridades variam de acordo com perfil
No geral, 23% avaliam a educação pública como ruim ou péssima e só 30% avaliam como ótima ou boa. Já a educação privada é avaliada como boa ou ótima por 50% dos entrevistados. Quanto maior a renda e maior o nível de escolaridade, pior a avaliação da rede pública. Além disso, brasileiros com ensino superior dão nota mais alta para a importância do investimento em educação pelo poder público: 9 versus 8,4 na média nacional.
Para quem tem entre 16 e 24 anos, a prioridade do governo deve ser o ensino médio (25%); para os analfabetos/quem sabe ler e escrever são as creches (26%) e para quem tem ensino superior é a alfabetização (33%).
“A população tem uma clara percepção que nós temos deficiência nos anos iniciais, a alfabetização e as creches, que ainda têm problema de abrangência. O Brasil não conseguiu cumprir a agenda da educação no século XX como outros países. Deveríamos estar discutindo inovação no século XXI, mas carregamos problemas estruturais, de qualidade e na matriz educacional, que travam nosso desenvolvimento. Precisamos melhorar a qualidade e ampliar a oferta da educação profissional”, conclui Lucchesi.
Questionados sobre os fatores que contribuem para melhorar a qualidade do ensino, os brasileiros listam como prioridade: aumentar salário dos professores (23%), melhorar a capacitação dos professores (20%) e melhorar as condições das escolas (17%).